28 de fevereiro de 2012

Politicamente Correto (e errado)

Hoje tive o desprazer de ouvir que um dos mais conceituados dicionários de língua portuguesa, o Houaiss, está sendo obrigado pelo Ministério Público a retirar um significado de um verbete: "cigano".

O dicionário constata que o vocábulo, dentre outros significados, pode trazer como conteúdo a ideia de algo como "malandro".

A coisa é antiga, em 2009 um cidadão solicitou na justiça indenização dos dicionários pela expressão deste preconceito. E ouvi falar também que há algumas décadas o vocábulo "judeu" teve o significado "sovina" riscado de diversos dicionários.

Percebo que agora os dicionários somente poderão ter significados "bunitinhos" e deixarão de poder traduzir a leigos o que a literatura expressou durante séculos. Analogias carregadas de preconceitos de autores do século XVIII, daqui a cem anos, serão indecifráveis, pois, em nome do politicamente correto, não poderemos mais revelar o significado que outrora palavras possuíram.

Quais os próximos cerceamentos que dicionários sofrerão? O verbete denegrir será apagado? Não se poderá constatar que preto pode se referir à raça? Doenças mentais precisarão ser acompanhadas de elogios aos seus portadores?

Observem que não tenho nada contra processar-se aquele que use o termo "cigano" de forma a desqualificar o grupo social.

No entanto, parece-me algo que vai contra a ideia de dicionário impedir que se descreva como uma palavra tem sido usada ao longo da história.

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